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domingo, 18 de setembro de 2016

Tio Alcino ( Chichino)

De todos os que conheci era o mais claro
no meio da morenice dos irmãos
Ruivo, sardento olhos claros 
solteirão.
Era de uma mudez 
assustadora pra menina que eu era.
toda vez que íamos la, almoçar ou visitar
 se estava , mal falava.
Jornal na cara, gato deitado na cadeira, bem atras.
Petrona e ele se entendiam pelo olhar.
Homem de fazes, 
ficou anos comendo frango
e anos comendo filet
todo feito com carinho pela Petrona 
qualquer que fosse o cardápio
era delicioso.
Morreu a Petrona 
morreu a mãe
ficou só na casa enorme.
Ia então na minha avó aos domingos,
sem avisar 
e la tinha a netinha
a pequenininha 
que andou cedo 
falou mais cedo ainda
se agrarra nas suas pernas
e pela primeira vez
eu vi 
Chichino pegar no colo uma criança,
ficaram os dois
nariz com nariz
e ela séria, 
examinando;
então dedinhos nos olhos 
nariz, orelhas 
perguntas e mais perguntas
primeira vez vi Chichino rir
gargalhar,
primeiro pacotinho de presente.
Caminhava em voltas na sala depois do almoço,
falando um pouco mais,
mas certamente se sentindo em casa. 
Quando ficou doente fomos mãe pai e eu 
dormir uns dias com ele,
eu deitada na cama improvisada no chão
do gabinete
descobri a National Geographic
que ele colecionava;
morreu só
deitado na cozinha 
chá pronto na beira do fogão
Nunca bebeu
os gatos miando ao redor a lhe fazer companhia!

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