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sexta-feira, 2 de março de 2018

Carta as filhas amorosas

Caríssima filha 

Escrevo pra você que, frustrada com todas as tentativas de fazer seu pai ou mãe felizes
não obtiveram êxito, eu já me absolvi e você deve se absolver também
Nada vai restituir a juventude deles;
seus cuidados nunca serão suficientes pra compensar a falta daqueles que já partiram; 
Não espere alegria no olhar ao ver vocês 
eles nos veem todo o dia! 
Somos a rotina chata que eles cumprem por amor a nós
  não os fazemos felizes.
O passado alegre e disposto se foi e o pouco de alegria será destinado aos 
netos, aos amigos aos estranhos aos vizinhos nunca pra você!
Você é a chata, impoe regras (mínimas) e reclama quando é preciso
inclusive no lugar deles fazendo assim o papel da megera;
a velhice é cruel com que vive e com quem convive.
Difícil sentir deles a gratidão por estar vivo;
 mesmo que sem dores ou sem maiores problemas de saúde.
Perderam os parceiros de vida
perderam a pele lisa,
a força, a resistência,
 a idéia de fazer qualquer exercício ou caminhar 
vira um verdadeiro calvário, uma longa e difícil negociação.
Ouvimos seguidamente 
vais ver quando chegares a minha idade
e nós filhas, envelhecidas também, 
pensamos será que chegaremos?
Teremos os cuidados que dispensamos?
Nos agarramos a eles com quase dessespero
mesmo eles não sendo mais os pais que foram,
na verdade são nossos filhos
nossos filhos velhos que honramos
como a lei do amor nos ensinou
com o nosso amor os seguramos
não os deixamos partir!
Vemos eles escorregarem de nossas vidas
modificarem o tratamento que nos dispensavam
e crianças no íntimo queremos nossos pais de volta
de jeitinho que eram
queremos colo
queremos eles eternos!
Esqueçam, façam o melhor que puderem
desapegue!
 Mesmo em lágrimas!