Em um canto, quieta, ao longe, ainda ouço a voz da minha avó,
retalhos de conversa, não identifico com quem,
Sentia então um sentimento de aconchego,
o mesmo sinto hoje
mais de sessenta anos depois.
Deitada no escuro,
ouço a voz de minha mãe,
pedaços de conversa
e o sentimento é o mesmo.
Aconchego, sinônimo de felicidade,
que passa pelo corpo da gente feito um raio;
e some,
Mas fica o eco do momento,
se bem guardado, juntando com outras sensações,
armazenamos um bocado de momentos,
breves, mas juntos, nos sustentam por um bom tempo.
É só abrir a gaveta da memória feliz
e dispor destes hiatos no meio do caos
das nossas vidas em atropelo.
Identificar e guardar.
eu no barco minha mão na água fria
meu pai na proa!
A mão firme do avô segurando a minha, com a outra mão a bengala ,
cala olha o céu ouvindo o passarinho!
bem-me-quer, mal-me-quer de margaridas desfolhadas
então vem os cheiros,
pisando na grama úmida.
e os partos ah os partos
do medo ao êxtase em um segundo!