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terça-feira, 31 de julho de 2018

ACONCHEGO DOS SONS

Em um canto, quieta, ao longe, ainda ouço a voz da minha avó,
retalhos de conversa, não identifico com quem,
Sentia então um sentimento de aconchego,
o mesmo sinto hoje
mais de sessenta anos depois.
Deitada no escuro, 
ouço a voz de minha mãe,
pedaços de conversa
e o sentimento é o mesmo.
Aconchego, sinônimo de felicidade,
que passa pelo corpo da gente feito um raio;
e some,
Mas fica o eco do momento,
se bem guardado, juntando com outras sensações,
armazenamos um bocado de momentos,
breves, mas juntos, nos sustentam por um bom tempo.
É só abrir a gaveta da memória feliz
e dispor destes hiatos no meio do caos 
das nossas vidas em atropelo.
Identificar e guardar. 
eu no barco minha mão na água fria 
 meu pai na proa! 
A mão firme do avô segurando a minha, com a outra mão a bengala ,
cala olha o céu ouvindo o passarinho!
bem-me-quer, mal-me-quer de margaridas desfolhadas
então vem os cheiros,
pisando na grama úmida.
e os partos ah os partos 
do medo ao êxtase em um segundo!


Penas ao vento

As críticas ficam gravadas para sempre 
nos computadores
as retratações , quando vem são tímidas e nunca publicamente
Mas o dano esta feito
Demonizam quem lhes da a mão.
Em um Pais de desamparados socialmente e clinicamente!
 Trocam o celular e não avisam
e culpam a saúde que não ligou
e mudam de bairro e de cidade e não se dão ao trabalho de reportar
tirando de quem precisa a vez
E dedos são apontados 
sua culpa; sem que sequer se ouça o outro lado
e jornalistas tomam partido
sem que tenham noção da extensão do dano que causam,
pouco se importam
muitos likes pra afagar vaidades
e assim se enterram reputações 
e assim são destratados 
vilipendiados, quem se importa, 
são tempos de ódio! 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

a avó Anna

Na juventude, 
delgada 
meia fina, salto alto fino;
a meia corria o fio, caras e raras na época;
 ela ia em uma senhora que era especialista em concertos;
portuguesa, morava na nossa rua,
rua cheia de plátanos,
garagem do SAMU,
 maçonaria , conservatório de música,
e a feira na esquina
com a batata suja, morangos pequeninos,
 e as laranjas mais sumarentas e doces que já comi.
Céu de inverno, intensa claridade
andava eu pela mão
no tempo que ela era só a minha mãe,
no tempo de juventude,
no tempo da impaciencia, 
me levava ela então,
a menina de olhos sensíveis,
 lacrimejava tanta a luz.
Cumprimentava e conversava com todos.
Cuidava dos doentes nos hospitais,
aonde quando eu ia 
ela baixinho repetia, 
não toca em nada , em nada!
Amiga verdadeira, 
mãe amorosa 
mas quando chegaram os netos, 
e olha que demorou
Ela desabrochou em felicidade
nunca a vi tão feliz
ficava 40 dias com o neto, 30 em sua própria casa.
O meu foi o primeiro
no total foram só quatro
de nossa família pequena 
agora seus olhos só brilham por eles.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

a nova geração

As quartas feiras cheias de gestantes, 
as quartas feiras cheiras de bebês!
Todo o dia notícias de pessoas que partiram.
E os bebezinhos vem repor a falta dos velhinhos!
A nossa praia tão cheia de aposentados, 
agora também cheia de crianças
somadas aos que estão de férias, 
a nossa praia esta cheia de adolescentes;
o mar cheio de surfistas,
os parquinhos cheios de brincadeiras;
triciclos coloridos se destacam na névoa teimosa.
A qualquer ar de sol todos vão descalços 
correr na praia 
brincar na areia, 
alegram o dia, adoçam a alma
Benditas crianças que nos encantam
nos fazem sorrir com suas presenças!  

segunda-feira, 23 de julho de 2018

E a velhice então; e a velhice o que é meu irmão..........

Me chamam de velha
não me ofende pois sou,
me mandam ir pra um asilo e ficar fazendo tricô
Ora! que coisa mais antiga,
somos as velhas do seculo XXl
Trabalhamos, saímos com as amigas, viajamos, seguimos inquietas,
curiosas pelas novidades. 
Somos alegres e entendemos que a velhice de um modo diferente.
Mudam as aflições que existem em qualquer idade.
Mas estamos na luta na batalha, 
Juntos !!
Produzimos, trabalhamos
fizemos concurso, passamos,
Entramos todas pela porta da frente de nossa unidade.
Temos energia pois além de trabalhar cuidamos das nossas casas
Dos pais e mães e netos!
As vezes pedimos um colinho para nossas mães  
Às vezes damos um colinho para os nossos filhos. 
Privilégio de poucos, 
a velhice nos é dada ,
aceitar como um presente 
é sabedoria!!
  

sexta-feira, 20 de julho de 2018

na névoa

O lençol branco cobre tudo
nada se vê a distância
A umidade fina convida ao recolhimento
Introspectiva, no limbo
nem feliz nem triste
 expectadora
da desenvoltura dos meus
a vontade é de deitar no colo da mãe velhinha
me aconchegar o máximo que puder
Mas o colinho esta frágil
Não vou conseguir explicar
Serei motivo de aflição
Cansada de decidir
cansada organizar
ligo o automático
suspiro de alívio que o filho esta aqui
um braço pra apoiar
alguém pra poder pedir
Os prazos são sempre curtos 
as visitas também
É tanta gente pra ver 
e pouco tempo ele tem,
Lembro então do meu pai
sempre com pressa
eu perguntava por que?
Viver é um piscar de olhos 
Preciso de sol
me falta a claridade

transferência de responsabilidade

Ouvimos a buzina insistente 
depois gritos de animação
então a porta se abre e com desenvoltura entra um pai e sua filha de braço engessado
-Estive viajando com ela e perdi o prazo de tirar o gesso,
vocês tiram?
A enfermeira explica que a retirada exige um equipamento especial.
O pai eleva a voz com ar de surpresa
-Voces vão deixar ela assim?
Então eu levanto da minha cadeira e vou dar uma volta,
Pra não dizer que quem deixou foi ele,
O descaso foi dele.
Tantos assim....
Perdi a consulta mas preciso urgentemente de um encaixe
Não estou bem!
Mas na hora e dia marcado não veio!
Pagamos caro em impostos por este tipo de atendimento.
Mas faltam as consultas,
quebram orelhões,
destroem o que podem.
 Silenciosamente ou nem tanto desmontam nosso SUS
Com a concordância da população.
A vila minúscula quadriplicou a população
Faço mais de 4 cadastros todo o dia
os prazos para consultar estão cada vez mais distantes
A população distraída não percebe que tudo esta mudando
pra pior.
-  

segunda-feira, 9 de julho de 2018

paciente

Chega com olhar vazio
cobra a receita, diz que pediu semana passada
Não pediu mas o olhar vazio me avisa do estado do paciente
quando eu argumento que talvez tenha esquecido
me encara, fixa o olhar, afirma que pediu a mim!
Não discuto peço pra esperar
o Olhar vagueia no vazio de novo,
senta, aguarda, olhar perdido.
Chega a receita depois de meia hora; 
ele imóvel, chamo pelo nome, repito.
Levanta como zumbi,
chamo de novo e ate que foque em mim não falo nada.
Aviso então de sua outra consulta .
Parece que entende .
Vai embora 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

as receitas

As receitas são renovadas a cada seis meses 
as controladas são feitas mês a mês
então temos uma legião de pessoas por telefone 
ou pessoalmente a cada mês pedindo sua dose diária de tranquilizantes
Se fosse um remedinho por pessoa seria fácil
mas é um pra dormir outro pra acordar outro pra não convulsionar e outro e outro e outro
cada medicação em uma folha 
vá que não tenha na mesma farmácia 
e então se imprime blocos de receitas.
 os pacientes estressados reclamam das doses
reclamam dos erros pedem mais 
querem o remédio que o outro médico receitou 
trazem o nome  no pedaço rasgado da caixa e querem porque querem tomar 
o remédio é da vizinha mas fez um bem danado..
Chegam com o diagnóstico pronto
sabendo exatamente o tipo de exame que precisam
ressonâncias ultrassons e por ai vai!
E tem os check-ups
a cada seis meses vem fazer revisão
tudo isto pelos nosso Postinho, TV de LED ligada,
 ficam sentados na sala de espera enquanto 
reclamam sem parar e contam suas mazelas em detalhes.
Alguns nos enchem de mimos
bolos docinhos geleias
mas tenho a mais absoluta certeza que o dia que sair daqui sequer me reconhecerão.
Ao me verem na rua antes de dar bom dia 
perguntam por exames, da médica etc, depois, as vezes vem o bom dia; 
tudo isto e muito mais e eu não troco este trabalho por nenhum outro!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

a insatisfação

O local é insalubre 
todos reclamam suas mazelas
e nada, nada do que se faça esta bom o suficiente,
  Se é para ser atendido tem que ser na hora
 Aconselho vir  as sete e meia pois sempre os primeiros pacientes atrasam!
Ninguém comparece!
Existe um milagre diário neste local
Ninguém adoece quando chove  e faz frio,
Chegam a ligar pra dizer que não vem a consulta pois não estão se sentindo bem;
alego que aqui é o lugar certo pra quem esta indisposto, não funciona!
Ou os pedidos de fisioterapia
por engano fazem 10 eles querem 30, mesmo sabendo que se autoriza de 10 em 10.
Cada dia uma história diferente.
Acho que vou fazer um diário



segunda-feira, 2 de julho de 2018

a colcha de lã

Durante anos tricotou 
nos invernos frios e solitários desta ilha molhada.
Inverno la fora, chuva e frio e ela tricotando!
Fez a primeira pra ela;
restos de lã de uma vida de agulhas e laçadas
 tricotou para as filhas, para as crianças abandonadas
casaquinhos, sapatinhos de bebê, 
e guardou cuidadosamente os restos de lã.
Com elas fez três colchas de retalhos quadrados quentinhos, 
trabalhava e se cobria nos invernos silenciosos.
Agora tanto tempo depois as colchas,
tantas camas cobriu, partes se desfizeram 
e ela paciente com agulha e uma cor só
assobiando a música do rádio, remendou
com alegria e disposição; apesar do tempo,
 minha Anna volta então ao que sempre foi.
Alegria e movimento!