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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

a espera

A casa foi assaltada mais de uma vez
a família resolveu deixar 2 cães dos que moravam com eles 
aqui na praia sozinhos, alguém da comida;
mas não cuida!
Se cuidasse um deles não teria morrido enforcado na sua própria coleira,
sobrou a idosinha, cabeça branquinha;
late pra tudo, arredia;
 o vizinho do lado
não vem em casa todo o dia,
porem quando esta em casa, 
compadecido, da o que ela não tem,
atenção, carinho, afeto.
Ontem ao sair de casa,
a vejo silenciosa 
sentadinha de frente para o muro
que divide as duas casas
esperando o vizinho carinhoso acordar!!
Amor e gratidão conquistado!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

a hora do silencio

O almoço engolido
o beijo apressado
a casa vazia 
fresca e escura
não deito, desabo, 
 passarinhos, cão que late 
parece tão longe 
o gato resmunga
peço silencio
schhhhh
Ele pula na cama,
se acomoda 
afundo uns segundos
neste silencio dentro de mim,
o corpo pesa na cama
respiro fundo,
o despertador avisa.
É hora;
vinte minutos 
e retorno
pedindo
mais calma,
mais escuro,
mais silencio!
Um pouco do fazer nada
no escuro do meu quarto.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

o difícil desvencilhar


Pessoas, objetos, memórias
Principalmente aquelas memórias que insidiosas entram 
caminham desinibidas antes do sono
que nos acordam;
que nos fazem sofrer outra vez!
Das pessoas....me desvencilho; sempre a mesma pergunta
Vivi tanto tempo sem elas,
Foram importantes, foram boas companhias
ocuparam o vazio da existência,
E depois se foram
sem endereço sem face
a voz, os atos gentis ou não, ficam
gravados.
Este ano de rupturas e de aceitação
Aceitações dolorosas,
rupturas libertadoras,.
Vai embora sem saudades
Só Anna que seguramos a mão,
ambas as duas e a fazemos seguir,
sua jornada solitária;
esta sim, dolorosa pois partiu meu pai e ela ficou
e conta os natais que passa sem ele 
e pergunta inúmeras vezes 
eu respondo a cada vez como se fosse a primeira e sinto também
a fisgada de dor que ela sente.
E o deixei ir, estava na hora 
hora de viver hora de morrer e a gente vai embora.
Ano novo logo chega e este não deixa saudades
Mostrou a cara sombria do facismo
Ano que vem o da ressaca moral de muitos!
E me desvencilho também da expectativa de dias melhores
Não serão, talvez iguais 
Acostumar com o peso no peito que há anos não sentia.
Volto a sentir 
Vai passar, diz minha amiga parodiando o santo!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Sueli

Morena de lábios cheios
cabelo muito liso, azul de tão preto era;
filha de d.Olinda, mulher corajosa que ficou 5 dias 
de arma em punho junto com suas duas filhas pequenas 
a espreita,
depois que mataram seu amado marido com um tiro só;
na nuca! 
Por desavenças de terra!
Mas isto foi no início do século, na fronteira do Rio Grande!
Esta viúva valente nunca mais casou apesar de bela,
( diz o folclore que atirou um gato, que dormia no sol, em um atrevido).
Cuidou das duas filhas bonitas também.
A mais jovem, Sueli, a morena, a índia, veio a ser a minha sogra,
mulher de silêncios,
a mulher metódica,
de horários,
de afazeres, de caminhadas,
de desvelo aos seus 3 guris.
Com a mãe, parceira que esteve ao seu lado ate a morte;
cuidou da família quietamente.
Os sorrisos vieram com os netos.
Depois dos netos sorriu.
E nós as duas; tão diferentes nos parecíamos
eu a entender a ela e ler seus silêncios!
Aquela casa tão masculina.
No sul do sul.
E as duas em volta a cuidar.
Protegeu, amou, perdeu o filho mais moço sofreu, adoeceu.
Em dor sem gemidos 
Em dor sem lágrimas
Partiu silenciosamente do jeito que viveu.
Os seu amados netos estão agora se despedindo.
Partiu para o outro lado do caminho
aonde esperam por ela 
a mãe dedicada, o marido apaixonado e o filho caçula
Foi em paz, merecida paz.


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A minha mãe e a tia Bebeth

Na hora de por as luvas
a mãe erra os dedinhos 
pôe dois no mesmo lugar, ri conserta comenta 
da mão pequenina;
depois pela mão leva a menina que eu fui, enfeitada, 
meia e sapato branco para o aniversário,
venta invariavelmente na cidade fria.
Nem todo o aniversário era bom,
haviam crianças hostis, agressivas,
tudo devolvido em meu próprio aniversário!
Corta!
A cidade agora é grande linda e quente
muito quente,
la mora a minha tia preferida 
 mais linda que a cidade,
 Ao visitar a rede de televisão,
era paquerada nos corredores da rede Globo, 
pelo galã da novela do momento!
A prima da mesma idade ao passar pelo Maracanã
sempre comentava que minha cidade cabia la dentro,
toda a população; inteirinha!
E íamos a museus, como íamos!
Era o programa anual de minha tia, 
Alem da praia que não precisava de companhia
 morava a duas quadras da praia.
Um destes museus queimou ontem 
e eu chorei
Minha tia nem deve lembrar que nos levava 
Eu nunca esqueci
ainda hoje é o meu programa predileto.
 Agora eu moro em uma cidade menor ainda; 
se passar com minha prima pelo Maracanã
ela certamente dirá que cabem 10 São Chico la dentro
e eu vou sorrir feliz!


terça-feira, 21 de agosto de 2018

a hora da partida

Um certo torpor, amanhece;
emerge de um sonho cheio de amigos
conversas, caminhadas .
A luz do teto volta a ferir os olhos
parentes mais jovens acordam cansados;
sorriem ao desejar bom dia,
a faze do constrangimento já passou, faz muito tempo
agora é esperar que o nó se desfaça
que a vida se acabe
que a dor passe
que tudo termine logo
O tempo não tem mais sentido
a vida também não
a velhice veio junto com
dor limitações doenças
a morte é o desfecho
esperado por todos
o hospital, o último estágio.
A casa não foi projetada pra tanta idade.
La na casa
eram felizes
tinham netos pequenos
tinham planos a curto prazo,
 sabedoria mais alegria
eram um par e tanto.
O tempo comeu o entusiasmo
comeu a saúde
a habilidade
e agora só resta esperar
pena que foi tão rápido
pena que foi tão bom.
Difícil desapegar
engole as lágrimas
 ninguém percebe.
O entra e sai de enfermeiras e médicos
impedem de descansar, impedem de morrer.
Mas uma noite se desprende
sensação de vertigem cair no vazio
depois flutuar
partir.

terça-feira, 31 de julho de 2018

ACONCHEGO DOS SONS

Em um canto, quieta, ao longe, ainda ouço a voz da minha avó,
retalhos de conversa, não identifico com quem,
Sentia então um sentimento de aconchego,
o mesmo sinto hoje
mais de sessenta anos depois.
Deitada no escuro, 
ouço a voz de minha mãe,
pedaços de conversa
e o sentimento é o mesmo.
Aconchego, sinônimo de felicidade,
que passa pelo corpo da gente feito um raio;
e some,
Mas fica o eco do momento,
se bem guardado, juntando com outras sensações,
armazenamos um bocado de momentos,
breves, mas juntos, nos sustentam por um bom tempo.
É só abrir a gaveta da memória feliz
e dispor destes hiatos no meio do caos 
das nossas vidas em atropelo.
Identificar e guardar. 
eu no barco minha mão na água fria 
 meu pai na proa! 
A mão firme do avô segurando a minha, com a outra mão a bengala ,
cala olha o céu ouvindo o passarinho!
bem-me-quer, mal-me-quer de margaridas desfolhadas
então vem os cheiros,
pisando na grama úmida.
e os partos ah os partos 
do medo ao êxtase em um segundo!


Penas ao vento

As críticas ficam gravadas para sempre 
nos computadores
as retratações , quando vem são tímidas e nunca publicamente
Mas o dano esta feito
Demonizam quem lhes da a mão.
Em um Pais de desamparados socialmente e clinicamente!
 Trocam o celular e não avisam
e culpam a saúde que não ligou
e mudam de bairro e de cidade e não se dão ao trabalho de reportar
tirando de quem precisa a vez
E dedos são apontados 
sua culpa; sem que sequer se ouça o outro lado
e jornalistas tomam partido
sem que tenham noção da extensão do dano que causam,
pouco se importam
muitos likes pra afagar vaidades
e assim se enterram reputações 
e assim são destratados 
vilipendiados, quem se importa, 
são tempos de ódio! 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

a avó Anna

Na juventude, 
delgada 
meia fina, salto alto fino;
a meia corria o fio, caras e raras na época;
 ela ia em uma senhora que era especialista em concertos;
portuguesa, morava na nossa rua,
rua cheia de plátanos,
garagem do SAMU,
 maçonaria , conservatório de música,
e a feira na esquina
com a batata suja, morangos pequeninos,
 e as laranjas mais sumarentas e doces que já comi.
Céu de inverno, intensa claridade
andava eu pela mão
no tempo que ela era só a minha mãe,
no tempo de juventude,
no tempo da impaciencia, 
me levava ela então,
a menina de olhos sensíveis,
 lacrimejava tanta a luz.
Cumprimentava e conversava com todos.
Cuidava dos doentes nos hospitais,
aonde quando eu ia 
ela baixinho repetia, 
não toca em nada , em nada!
Amiga verdadeira, 
mãe amorosa 
mas quando chegaram os netos, 
e olha que demorou
Ela desabrochou em felicidade
nunca a vi tão feliz
ficava 40 dias com o neto, 30 em sua própria casa.
O meu foi o primeiro
no total foram só quatro
de nossa família pequena 
agora seus olhos só brilham por eles.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

a nova geração

As quartas feiras cheias de gestantes, 
as quartas feiras cheiras de bebês!
Todo o dia notícias de pessoas que partiram.
E os bebezinhos vem repor a falta dos velhinhos!
A nossa praia tão cheia de aposentados, 
agora também cheia de crianças
somadas aos que estão de férias, 
a nossa praia esta cheia de adolescentes;
o mar cheio de surfistas,
os parquinhos cheios de brincadeiras;
triciclos coloridos se destacam na névoa teimosa.
A qualquer ar de sol todos vão descalços 
correr na praia 
brincar na areia, 
alegram o dia, adoçam a alma
Benditas crianças que nos encantam
nos fazem sorrir com suas presenças!  

segunda-feira, 23 de julho de 2018

E a velhice então; e a velhice o que é meu irmão..........

Me chamam de velha
não me ofende pois sou,
me mandam ir pra um asilo e ficar fazendo tricô
Ora! que coisa mais antiga,
somos as velhas do seculo XXl
Trabalhamos, saímos com as amigas, viajamos, seguimos inquietas,
curiosas pelas novidades. 
Somos alegres e entendemos que a velhice de um modo diferente.
Mudam as aflições que existem em qualquer idade.
Mas estamos na luta na batalha, 
Juntos !!
Produzimos, trabalhamos
fizemos concurso, passamos,
Entramos todas pela porta da frente de nossa unidade.
Temos energia pois além de trabalhar cuidamos das nossas casas
Dos pais e mães e netos!
As vezes pedimos um colinho para nossas mães  
Às vezes damos um colinho para os nossos filhos. 
Privilégio de poucos, 
a velhice nos é dada ,
aceitar como um presente 
é sabedoria!!
  

sexta-feira, 20 de julho de 2018

na névoa

O lençol branco cobre tudo
nada se vê a distância
A umidade fina convida ao recolhimento
Introspectiva, no limbo
nem feliz nem triste
 expectadora
da desenvoltura dos meus
a vontade é de deitar no colo da mãe velhinha
me aconchegar o máximo que puder
Mas o colinho esta frágil
Não vou conseguir explicar
Serei motivo de aflição
Cansada de decidir
cansada organizar
ligo o automático
suspiro de alívio que o filho esta aqui
um braço pra apoiar
alguém pra poder pedir
Os prazos são sempre curtos 
as visitas também
É tanta gente pra ver 
e pouco tempo ele tem,
Lembro então do meu pai
sempre com pressa
eu perguntava por que?
Viver é um piscar de olhos 
Preciso de sol
me falta a claridade

transferência de responsabilidade

Ouvimos a buzina insistente 
depois gritos de animação
então a porta se abre e com desenvoltura entra um pai e sua filha de braço engessado
-Estive viajando com ela e perdi o prazo de tirar o gesso,
vocês tiram?
A enfermeira explica que a retirada exige um equipamento especial.
O pai eleva a voz com ar de surpresa
-Voces vão deixar ela assim?
Então eu levanto da minha cadeira e vou dar uma volta,
Pra não dizer que quem deixou foi ele,
O descaso foi dele.
Tantos assim....
Perdi a consulta mas preciso urgentemente de um encaixe
Não estou bem!
Mas na hora e dia marcado não veio!
Pagamos caro em impostos por este tipo de atendimento.
Mas faltam as consultas,
quebram orelhões,
destroem o que podem.
 Silenciosamente ou nem tanto desmontam nosso SUS
Com a concordância da população.
A vila minúscula quadriplicou a população
Faço mais de 4 cadastros todo o dia
os prazos para consultar estão cada vez mais distantes
A população distraída não percebe que tudo esta mudando
pra pior.
-  

segunda-feira, 9 de julho de 2018

paciente

Chega com olhar vazio
cobra a receita, diz que pediu semana passada
Não pediu mas o olhar vazio me avisa do estado do paciente
quando eu argumento que talvez tenha esquecido
me encara, fixa o olhar, afirma que pediu a mim!
Não discuto peço pra esperar
o Olhar vagueia no vazio de novo,
senta, aguarda, olhar perdido.
Chega a receita depois de meia hora; 
ele imóvel, chamo pelo nome, repito.
Levanta como zumbi,
chamo de novo e ate que foque em mim não falo nada.
Aviso então de sua outra consulta .
Parece que entende .
Vai embora 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

as receitas

As receitas são renovadas a cada seis meses 
as controladas são feitas mês a mês
então temos uma legião de pessoas por telefone 
ou pessoalmente a cada mês pedindo sua dose diária de tranquilizantes
Se fosse um remedinho por pessoa seria fácil
mas é um pra dormir outro pra acordar outro pra não convulsionar e outro e outro e outro
cada medicação em uma folha 
vá que não tenha na mesma farmácia 
e então se imprime blocos de receitas.
 os pacientes estressados reclamam das doses
reclamam dos erros pedem mais 
querem o remédio que o outro médico receitou 
trazem o nome  no pedaço rasgado da caixa e querem porque querem tomar 
o remédio é da vizinha mas fez um bem danado..
Chegam com o diagnóstico pronto
sabendo exatamente o tipo de exame que precisam
ressonâncias ultrassons e por ai vai!
E tem os check-ups
a cada seis meses vem fazer revisão
tudo isto pelos nosso Postinho, TV de LED ligada,
 ficam sentados na sala de espera enquanto 
reclamam sem parar e contam suas mazelas em detalhes.
Alguns nos enchem de mimos
bolos docinhos geleias
mas tenho a mais absoluta certeza que o dia que sair daqui sequer me reconhecerão.
Ao me verem na rua antes de dar bom dia 
perguntam por exames, da médica etc, depois, as vezes vem o bom dia; 
tudo isto e muito mais e eu não troco este trabalho por nenhum outro!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

a insatisfação

O local é insalubre 
todos reclamam suas mazelas
e nada, nada do que se faça esta bom o suficiente,
  Se é para ser atendido tem que ser na hora
 Aconselho vir  as sete e meia pois sempre os primeiros pacientes atrasam!
Ninguém comparece!
Existe um milagre diário neste local
Ninguém adoece quando chove  e faz frio,
Chegam a ligar pra dizer que não vem a consulta pois não estão se sentindo bem;
alego que aqui é o lugar certo pra quem esta indisposto, não funciona!
Ou os pedidos de fisioterapia
por engano fazem 10 eles querem 30, mesmo sabendo que se autoriza de 10 em 10.
Cada dia uma história diferente.
Acho que vou fazer um diário



segunda-feira, 2 de julho de 2018

a colcha de lã

Durante anos tricotou 
nos invernos frios e solitários desta ilha molhada.
Inverno la fora, chuva e frio e ela tricotando!
Fez a primeira pra ela;
restos de lã de uma vida de agulhas e laçadas
 tricotou para as filhas, para as crianças abandonadas
casaquinhos, sapatinhos de bebê, 
e guardou cuidadosamente os restos de lã.
Com elas fez três colchas de retalhos quadrados quentinhos, 
trabalhava e se cobria nos invernos silenciosos.
Agora tanto tempo depois as colchas,
tantas camas cobriu, partes se desfizeram 
e ela paciente com agulha e uma cor só
assobiando a música do rádio, remendou
com alegria e disposição; apesar do tempo,
 minha Anna volta então ao que sempre foi.
Alegria e movimento!


quarta-feira, 16 de maio de 2018

O Oco

A volta foi complicada,
a casa vazia a muito tempo, recendia a mofo; 
as pareces pareciam fechar sobre mim,
respirei fundo, abri as janelas!
  o recomeço foi com o oco da casa indo,
 certeiro, pra dentro do meu peito!
Convivi com este vazio por um tempo.
Dia a dia me ocupando, fui esquecendo,
o vazio preenchido por luz, cor, sal, sol. 
Trabalho, amigos, família, a que tinha aqui;
regaço de mãe.
Anna já adoecida seguia perdendo peso!
Sobrevivemos, a doenças, a perdas irreparáveis!
Meu pai partiu, mas segue entre nós com sua presença forte
É lembrado dia a dia
Envelheci e vejo variações das histórias de vida. 
Eternos recomeços.
Assisto inquieta sem poder de ação nem de intervenção!
Cada um vive sua vida e escolhe o que vai ser! 
O vento arrancou mais um pedaço de casca do Eucalipto morto,
mas na chuva de ontem o cheiro a terra molhada voltou!
Agradeço!

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Em frente ao mar

 O muro alto,
caiado de branco,
Já foi sobre uma duna mas no corta e recorta, do bairro
acabou sobre uma rampa íngreme gramada.
Ali tem um atalho, uso em dias movimentados;
é um corredor a céu aberto,
 entre o muro branco e uma hamburgueria;
corredor estreito de areia quente,
 com uma grama queimada pelo sol e pela seca.
Em frente a este muro retangular
árvores frondosas oferecem sombra até um certo momento do dia.
estaciono nestes dias em frente ao pequeno cemitério;
que pela beleza do mar ninguém percebe.
Nem a ele nem ao atalho, muito menos a sombra acolhedora.
Caminho por la tentando abstrair, olho para o chão quente;
vejo no muro rachaduras,
lascas de parece caíram deixando à mostra outra parede
penso, sem querer, que deve ser um túmulo!
Penso ainda que um dia destes vou acabar tropeçando em uma ossada.
Cruzo a rua, passo pela restinga escassa
chego à praia e esqueço
mas hoje ainda é lua cheia....



Entre uma praia e outra 
que se contorna a pé,
Um sambaqui!
Outro cemitério, este dos nossos índios Carijós.
Sedimentos de material foram depositados na rocha nua
Hoje é um morro tombado pelo patrimônio histórico.
Ali grutas fechadas pelo mato denso ha o outro cemitério.
Ninguém se impressiona ou sabe talvez, 
Por um atalho estreito, 
 se sobe pra ver uma impressionante 
lage lisa escorregadia que desce em rampa até o mar; 
 mar que lava a rocha
em dias de ressaca!
De tirar o fôlego!
Esta ilha é assim
vida e morte juntas misturadas
Ninguém percebe.


segunda-feira, 2 de abril de 2018

A festa da Toninha e o banho de mar ao anoitecer

Viramos crianças
morremos de rir por nada
comemos tanto doce e salgadinhos 
e fazia tanto calor,
que a noitinha, sem planejar 
fomos até o mar
e ao por os pés na água ainda morna 
do dia escaldante que fez
Nem pensei outra vez
Entrei
vestido, calcinha, perfume, brincos, anéis
só a bolsa pendurada na cadeira deixei
e sobre a minha cabeça uma estrela
eu olhando pra ela 
e entre nós mais ninguém;
A lua cheia? Nem sombra
só eu e a estrela no céu
a roupa dançando na água
leve envolta em sal.
Eu cabeça molhada salgada
o mar quietinho
a onda quebrando mansinho!
Pura magia 
eramos um a estrela o mar e eu.










sexta-feira, 2 de março de 2018

Carta as filhas amorosas

Caríssima filha 

Escrevo pra você que, frustrada com todas as tentativas de fazer seu pai ou mãe felizes
não obtiveram êxito, eu já me absolvi e você deve se absolver também
Nada vai restituir a juventude deles;
seus cuidados nunca serão suficientes pra compensar a falta daqueles que já partiram; 
Não espere alegria no olhar ao ver vocês 
eles nos veem todo o dia! 
Somos a rotina chata que eles cumprem por amor a nós
  não os fazemos felizes.
O passado alegre e disposto se foi e o pouco de alegria será destinado aos 
netos, aos amigos aos estranhos aos vizinhos nunca pra você!
Você é a chata, impoe regras (mínimas) e reclama quando é preciso
inclusive no lugar deles fazendo assim o papel da megera;
a velhice é cruel com que vive e com quem convive.
Difícil sentir deles a gratidão por estar vivo;
 mesmo que sem dores ou sem maiores problemas de saúde.
Perderam os parceiros de vida
perderam a pele lisa,
a força, a resistência,
 a idéia de fazer qualquer exercício ou caminhar 
vira um verdadeiro calvário, uma longa e difícil negociação.
Ouvimos seguidamente 
vais ver quando chegares a minha idade
e nós filhas, envelhecidas também, 
pensamos será que chegaremos?
Teremos os cuidados que dispensamos?
Nos agarramos a eles com quase dessespero
mesmo eles não sendo mais os pais que foram,
na verdade são nossos filhos
nossos filhos velhos que honramos
como a lei do amor nos ensinou
com o nosso amor os seguramos
não os deixamos partir!
Vemos eles escorregarem de nossas vidas
modificarem o tratamento que nos dispensavam
e crianças no íntimo queremos nossos pais de volta
de jeitinho que eram
queremos colo
queremos eles eternos!
Esqueçam, façam o melhor que puderem
desapegue!
 Mesmo em lágrimas!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

o trabalho que resgata

Apareceu do nada
ela e o irmãozinho
logo foi acolhida por Anna
Então, faceira sorria
tem cachorrinho que sorri
Cidinha sorri
diferente de Pretinha, 
nada arredia,
bem sociável, diga-se de passagem!
Ia ser castrada quando entrou no cio,
E aí começou a saga
fugiu da casa de um,
escapou da casa de outra,
e a matilha aumentando 
todos fazendo a corte
mas ela menina ainda
sentava assustada!
Ate que eu dei um basta,
vai la pra casa falei!
E ela me resgatou da aflição de ficar quieta.
Fechada no atelier
coberto de papelão
viveu assim a mocinha
E eu me sentindo útil
cuidando da pequena
já que nem ócio criativo podia,
pra não piorar a frustração
o exercício de não pensar
não inventar
não criar
Cidinha me ajudou
era um tal de troca pano
era um tal de servir ração
e ela acostumada livre 
se submeteu a prisão
Mimosa; depois de tudo,
foi libertada afinal
levou a almofadinha 
que fazia de colchão
agora corre livre
ela e seu amiguinhos.
Anna enfim substituiu
a Pretinha 
esta agora é pequena
atende por
Aparecida ou Cidinha 
para os íntimos 
O gato nem sente falta!



a correnteza


Debaixo destas águas tranquilas 
existe uma correnteza
cuidado você meu amigo
não mergulhe nas águas profundas
você pode ser tragado
pela corrente disfarçada;
 sorriem,adulam, 
sussurram baixinho
e a correnteza se espalha
e você vira noticia
mesmo estando adoentada
vira prato
vira incômodo
com tudo o que não lhes diz respeito
Cuide de sua vida, cuidado;
as paredes tem ouvidos,
e distorcem ou editam 
tudo aquilo que se fala
não importa a competencia
não importa o que faz
de mansinho bem quietinho
almejam o seu lugar!!


Eu aqui pensando
cada qual no seu lugar 
todos em harmonia
Como já foi e será!


domingo, 4 de fevereiro de 2018

filigrana

Entre todas folhas secas
encontro esta 
leve como uma pluma
a natureza forjou
como um ourives talentoso
nem feita de ouro ou prata
 tão bela como fulgaz
a folha que fora verde
só os veios da seiva 
preservados 
delicada escultura
presente que o o mato da

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

por quatro estações

Maré cheia
praia cheia 
pouco espaço pra andar
céu escuro carrancudo
como todo entardecer
Eu todo dia exercito
 paciente a musculatura
ora nado cachorrinho
ora peso de suar,
antes tão devavarinho
agora tempo de malhar;
elas sempre sorridentes 
se revesam a me orientar
Não é mole minha gente
tenho idade, devagar!!



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

manhã de sol

Depois do terceiro dia de chuva, o sol
Praia nem tão cheia
Sento sozinha, relaxo;
crianças ao meu redor jogam futebol
falam espanhol
depois do 7x1 nem sei mais se é o nosso jogo nacional
e já vem outra copa.
Fecho os olhos novamente,
preguiçosa
fragatas em espiral ascendente 
planam em círculos sobre o mar tranquilo
rapazes com cardápios
caminham na areia oferecendo petiscos
Eu recuso sem fome 
a certeza de tudo estar em seu lugar
me deixa tranquila
o pior da chuva já passou
todos estão bem 
ate a pequena hóspede que acaba de arrebentar a corrente
foi resgatada
ta tudo na paz
sera?
  

domingo, 7 de janeiro de 2018

Bendita praia

Que nos adoça a vida com sal
nos mostra dia a dia a caminhada que fazemos
as marcas que levamos cicatrizes da vida que vivemos
Juntos mulheres e homens ano a anos convivendo no verão na mesma praia
nos percebemos iguais, mas diferentes 
Uma jornada que deixa rugas; a vida que levamos 
e nos reconhecemos umas nas outras 
sem retoques, cruamente, 
docemente!
A vida que carregamos, a nossa humanidade.
Mulheres e homens comuns alegres pelo reencontro
Mostramos nossa caminhada ora dura ora suave,
mas nem por isto sem marcas
É muito bom este convívio de expor nossa idade
 mudanças que a vida nos da de presente
aceitando alegremente o preço, sem pudores
desnudamos corpo e alma 
ao nos expormos ao sol
e as caminhadas e a alegria de estarmos vivos 
nossa finitude
e o amor pelo mar